quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A menina

Ela estava ao longe,
paralisada, cabelos ao vento, ar de intocada. Delicada e firme ao mesmo tempo, amparava-se em um banco verde, com pés descalços,vestindo um suéter surrado. Percebiam-se as lágrimas em sua face, as unhas negras dos resquícios da longa e solitária caminhada.
Ela estava ao longe, mas sentia-se de tão perto o odor amargo de sua mágoa.
Em delírio se banhou na chuva ácida que caia no fim daquela tarde, e partiu, como quem termina uma jornada, com os pés descalços e os cabelos lhe combrindo o medo na face.

Do meu amor desconexo

Hoje talvez não haja poesia no que eu diga,
talvez não haja mistério, talvez não haja novidade.
Hoje talvez falar me sangre o peito, do que não sei direito, do que não tem explicação.
Hoje talvez minha noite seja assim embalada, pelas cordas dedilhadas do seu violão melancólico, de seus dedos sem direção.
Talvez eu fique sem memória, e sem lógica invente uma história para que me dê perdão.
Hoje talvez eu fale do que se transforma, do que me acende alma, do que me tortura este fûnebro coração. Talvez eu fale do olhar de calma, do falar de brisa, do cheiro da noite enluarada. Talvez eu queira porque não consigo, porque cada dia é mais um dia e mais um dia.
Só quero falar do que me rasga, do que me leva as alturas, sem que meus pés tire do chão.
Só quero saber do teu jeito de menino, do teu trazer a calma quando me perco no vão. Hoje lhe quero, mas o peito rebate, já sinto ser tarde,e o que tanto quero já nem carece explicação!
Hoje eu não tenho nexo, hoje talvez não haja, hoje talvez não seja, hoje talvez eu fique, talvez eu fale um pouco mais.